quarta-feira, outubro 12, 2005

CAPÍTULO IX

Capítulo IX

Estou deitado no meu sofá. A curtir um som de Kruder & Drofmaster. A pensar no que tinha que contar ao Lim. Espera aí o que é aquilo? Olho agora para qualquer coisa que está no chão, junto à porta da entrada. Parece ser um envelope. Levanto-me e apanho o envelope do chão. É uma carta sem remetente. Espera aí. Hoje quando fui buscar o jornal também trouxe uma carta sem remetente. Será que se está a passar alguma coisa?
Sento-me no sofá e abro um dos envelopes. Desdobro uma folha de papel e vejo uma série de letras de algum jornal recortadas e coladas.
_Não vale a pena procurarem-na. Leiam a primeira carta.
Pego no envelope que encontrei na caixa do correio e abro-o. De novo letras de jornal recortadas e coladas.
_Temos a chave em nosso poder. Se não fizerem o que queremos enviamos a chave para a judiciária.
Agora é que vão ser elas. Estamos tramados. Estão a fazer chantagem connosco e ainda para mais de certeza que vão querer o dinheiro todo. Tanto trabalho para nada. Merda. Tenho que falar urgentemente com o Lim. Mas ele disse-me para esperar pelo telefonema dele.
Pego nas cartas e olho de novo para elas. Reparo que o primeiro envelope também não tina selo e que as letras são todas do mesmo tipo. O jornal escolhido é o mesmo. Qual seria? Pego no que estava em cima da mesa e reparo que as letras coincidem. Os gajos lêem o mesmo jornal que eu. Estranho. Sinto algo a tremer na minha perna. É o meu telemóvel. É o Lim. Yes.
_Tou! Lim!
_Então? Onde estás?
_Vem ter comigo ao meu apartamento. Rápido.
_Até já.
_Aconteceram umas merdas, man.
_O quê?
_Já falamos, man. Não é assunto para falarmos ao telefone.
_Está bem. Até já.
_Despacha-te.
Pouco tempo depois estou com o Lim na minha sala.
_Lim não faças só um. Faz dois porque vamos precisar. É muita merda, man.
Contei-lhe toda a história que o Rui me tinha contado e das cartas que tinha recebido. O Lim ficou com um ar preocupado e começou a franzir a testa.
_Que vamos fazer, Lim?
_Estou a pensar. Mas até eles nos contactarem de novo não podemos fazer nada.
_Bem podemos esperar sentados.
_Podes sempre receber outro envelope por baixo da porta.
_É. Mas não acredito. Quem viria colocar um envelope aqui sabendo que cá estamos os dois?
_Um maluco qualquer, sei lá.
Foi quando ouvimos um barulho e olhamos os dois para a porta da entrada. Um envelope deslizava ainda pelo chão. Levantamo-nos os dois e corremos para a porta. Abro a porta e quando saio a correr esbarro contra alguém no meio da escuridão.
_Ai!! Não vez por onde andas, pá?
_Rui? És tu?
_Sou pá. Quem esperavas?
_Como é que sabes que eu moro aqui? O que vieste aqui fazer?
_Deixa-me entrar, pá. Já falamos.
Entramos os três para a sala e o Lim senta-se em frente ao Rui.
_O que se passa, pá?
_Como é que vieste cá parar, man?
_Olha. Rui, nós só queremos saber o que vieste cá fazer?
_Tenham calma. Olha pá, sabes que horas são?
_Horas? Estás passado, man?
_Sim, pá. Horas. São oito horas.
_E depois? Lim, este gajo está passado de todo.
_Rui. Foste apanhado. Confessa o que vieste cá fazer.
_Eu só vim cá porque a Mena me pediu, pá.
_A Mena?
_Sim, pá! A tua namorada estava preocupada contigo. Eu encontrei-a na rua e ela disse-me que tu te esqueceste de a ir buscar e eu disse-lhe que ía à tua casa falar contigo, foi quando ela me disse que era mais fácil encontrar-te aqui.
_A Mena disse-te para vires aqui?
_A sério, pá. Porquê? Passa-se alguma coisa contigo?
_Rui foi só por isso que vieste ter aqui? Porque a namorada dele te disse que ele tinha aqui um apartamento?
_Já disse que sim, pá. O que se passa, pá?
_Nada, man. Foi só uma cena sem importância. Não ligues.
_Se precisares de alguma coisa sabes que podes contar comigo, pá.
_Está descansado, man. Não se passa nada.
_Rui se não te importas, nós estávamos a ter uma conversa particular.
_Tudo bem, pá. Já estou de saída.
_Eu ligo-te mais tarde, man. Pode ser?
_Pode ser. Até já. Tchau Lim.
_Adeus Rui.
O Rui sai e nós sentámo-nos de novo no sofá. De repente o Lim dá um salto e vai até à porta. Apanha o envelope do chão e abre-o.
_À meia-noite encontramo-nos debaixo da ponte, junto ao rio. Levem todos os sacos do dinheiro.
_Merda. Terá sido o Rui que trouxe isto, man?
_Como assim?
_Imagina que o tio dele encontrou a chave. Pega na chave e guarda-a no bolso. Vai ter com o Pai do Rui e juntos preparam um plano para nos tirarem a massa toda.
_Não me parece. Como é que eles a partir de uma chave chegavam ao meu carro? Ainda para mais o puto parecia dizer a verdade, aliás basta telefonares à Mena para confirmares a história dela.
_Iá. Vou-lhe ligar. Tou! Mena!
_Ainda te lembras de mim, anjo?
_Claro que me lembro, amor. Mas estou com um problema e tenho que o resolver.
_Eu ajudo-te. Vem ter comigo.
_Não dá. Tenho que o resolver com o Lim.
_Foi por causa do roubo?
_Foi amor, mas não te preocupes que já está quase resolvido.
_Tem cuidado. Não precisas mesmo da minha ajuda?
_Não. Mas diz-me uma coisa, estiveste com o Rui, hoje?
_Encontrei-o e estava tão furiosa que lhe contei que tinhas alugado um apartamento.
_Deixa lá amor, não estou chateado.
_Ainda bem. Estava com medo que te chateasses comigo.
_Está descasada. Adoro-te, mas tenho que desligar.
_Também te adoro, anjo. Liga-me mais tarde.
_Está bem. Beijo.
_Outro para ti.
Desliguei e o Lim estava todo curioso a olhar para mim.
_O Rui está limpo. A história confirma-se.
_Então continuamos sem saber quem são. Temos de lá ir à meia-noite.
_Não devíamos avisar o Pedro? Afinal ele também está no mesmo buraco.
_Tens razão. Vou-lhe ligar.
_Eu acho melhor. Três cabeças pensam melhor do que uma e o Pedro pareceu-me ser um tipo inteligente.
_Já está a chamar. Tou! Pedro?
_ (...)
_Temos que nos encontrar o mais rápido possível.
_ (...)
_ Hoje não dá? Tem que dar, é importantíssimo.
_ (...)
_Amanhã é tarde mais. Tens que estar no Fanicos hoje à noite às dez horas.
_ (...)
_Muda isso para outro dia. Estou à tua espera às dez.
_ (...)
_Não há mas nem meio mas, aparece sem falta à hora combinada.
_ (...)
_Acabou! Não quero ouvir mais nada. Até logo.
O Lim desligou o telemóvel e franziu a testa.
_O gajo não quer vir Lim?
_Diz que tem um trabalho marcado para hoje à noite e que não pode vir.
_O gajo não deve estar a ver bem no que estamos metidos, man. Podias lhe ter dito que estamos prestes a perder toda a massa.
_Não te preocupes que ele aparece. Vamos indo para o Fanicos.
São vinte e duas horas e estamos no Fanicos. Já bebemos quase meia garrafa de whisky e o Pedro ainda não chegou. O Lim está farto de lhe ligar, mas o telemóvel dele está desligado. Será que o tipo não vem? Vou ter que resolver tudo com o Lim? Iremos perder todo o dinheiro da recolha nocturna? Uma série de questões não me saíem da cabeça e o pior de tudo é que acho que algo está errado. Não sei bem o quê, mas algo nesta história não bate certo. O que será?
_Como é miúdo? Estás tão moca que nem me ouves?
_Desculpa lá, Lim. Mas acho que nesta história toda algo não bate certo.
_O que é que não bate certo?
_Não sei, man. Alguma coisa está errada e eu vou descobrir o que é.
_Vê lá se descobres rápido, pois já temos pouco tempo.
_Pensa comigo, man. Para ti quem são os suspeitos?
_Suspeitos?
_Sim. Não desconfias de ninguém?
_Sinceramente? Não. A única pessoa de quem desconfiei foi do Rui, mas como a Mena confirmou a história dele, já não é mais suspeito.
_É, o Rui deixou a lista, mas ainda tenho mais três suspeitos.
_Quem?
_Eu, tu e o Pedro.
_Estás a brincar?
_Não. Eu e tu estamos fora porque estávamos os dois em minha casa quando recebemos a segunda carta, mas o Pedro...
_Já estou a ver a cena. Mas achas que é o Pedro que nos está a tentar passar a perna?
_Tudo encaixa, man. O Pedro sabia da chave e podia a ter tirado ao Gazela no carro à ida para o armazém, afinal iam os dois juntos no banco de trás. Enviou-me as cartas pois sabia que eu ia ter contigo. E até agora não deu mais notícias.
_A tua história é muito bonita, mas estás a esquecer-te que o Pedro não sabia do teu apartamento. Acho que estás na pista errada.
_É verdade, mas ele podia ter-te seguido a ti ou até a mim.
_A mim não me seguiu porque estou sempre atento a essas merdas. E a ti também não porque ele também não sabe onde é a casa dos teus Pais. Esquece miúdo, isto é obra de alguém de fora e de alguém com muitos conhecimentos.
_Talvez, mas eu disse-te logo que não gostava dele, man.
_Estás nervoso demais para pensar nisto.
_Também tens razão. Estou com a minha cabeça muito quente e quero encontrar um culpado a todo o custo.
_Estamos a perder tempo com disparates e ainda temos outro problema.
_Qual?
_Temos que meter os sacos da recolha nocturna na mala do meu carro sem a judite ver e ainda temos que os despistar de alguma maneira.
_Isso é fácil. Não te preocupes e deixa isso comigo.
_O que vais fazer?
_É simples. Saio pela porta da frente, pego no teu carro, dou a volta ao quarteirão e meto o carro pelas traseiras.
_E a judite?
_De certeza que não entram com o carro deles na tua propriedade, por isso podemos carregar os sacos para o carro na boa.
_E depois?
_Depois deixas-me conduzir a mim que eu já sei como os despistar.
_Se tu o dizes, quem sou eu para o desmentir. Vamos a isso.

CAPÍTULO VIII

Capítulo VIII

Começo a me sentir cansado e deito-me na cama. Passam-me pela cabeça os mais estranhos pensamentos. As mais esquisitas recordações. Até que adormeço.
Acordo com alguém a abanar-me. Abro um olho e depois o outro. Estou a ver tudo enevoado. É o baixinho que está à minha frente.
_Levanta-te. Vais sair.
_Vou-me embora?
_Sim, anda.
Saio da cela e regresso para o open space. Olha é o Lim que está ali. Está a falar com um careca de fato.
_Lim. O que aconteceu?
_Anda, vamos embora. O meu advogado tirou-nos daqui.
_Este gente está tola, man. Só falam num roubo que houve num armazém.
_Esquece isso e vem embora.
Saímos da esquadra e o advogado do Lim deixou-nos no Fanicos. O Lim abriu a porta com a chave dele, entrámos e fomos para o balcão. O Lim pegou numa garrafa de whisky e começámos a beber.
_Não é melhor ligarmos aos outros, Lim?
_Tens razão. Vou ligar ao Filipe.
Pegou no telefone do café, ligou o alta voz e marcou o numero do Filipe.
_Tou! Filipe.
_Sim Lim. Diz.
_Onde estão vocês? Já são duas e meia.
_Estamos ainda no pinhal. Está quase acabado. Tivemos uma sorte danada. Imagina só que encontrámos um buracão enorme com dois metros de profundidade. Metemos o gajo lá dentro e foi só enchê-lo de terra. O Pedro já está a queimar o mato. Tenho que ir, ainda temos que ir ao parque subterrâneo.
_Venham ter depois aqui ao Fanicos.
_Até já!
Enquanto que o Lim falava ao telefone enrolei mais um. Estávamos a precisar de passar o tempo com alguma paz e sossego. Agora sim. Posso imaginar o Pedro e o Filipe a enterrarem o Gazela. Depois a deitar fogo ao mato. As labaredas estão a crescer cada vez mais. Já ardem árvores inteiras. Lindo. O Pedro e o Filipe já arrancaram para o parque subterrâneo. Lá vão eles a caminho, a curtirem um pico a ouvir GNR, “Dunas”.
Chegam ao parque subterrâneo, tiram o bilhete e entram. Estacionam perto da Opel Astra do Filipe. Trocam os bilhetes, trancam a Nissan e saem na Opel Astra. Iá, tudo como combinado. Não tarda estão aqui a chegar.
Ouvimos um barulho de vozes e abre-se a porta.
_Primo está tudo OK.
_Correu tudo como planeado?
_Podes crer. Deixa-me só lavar as mãos que estão cheias de terra. Não queres lavar também Filipe?
_Boa é mesmo isso.
Vão os dois para a casa de banho e eu fico a olhar para o Lim.
_Que queres miúdo?
_Onde vamos pôr o dinheiro? Não pode ficar aqui.
_Não queres levá-lo para o teu apartamento?
_Não sei, man. A coisa não está fácil.
_O quê?
_Eu, tu e o teu primo não podemos ficar com o dinheiro. Eu e tu somos suspeitos e o teu primo está a dormir em tua casa.
_Pode o Pedro.
_Não confio nele, man. Não o conheço de lado nenhum.
_Se o escolhi é porque é de confiança.
_Pode até ser, mas o que queres man? Não sei, há ali qualquer coisa.
_Achas? Já o conheço à alguns anos, já entrámos em montes de golpes e ele nunca deu a mínima bandeira. Acho que podemos confiar nele.
Os dois coveiros saem da casa de banho e tornam-se a juntar a nós à beira do balcão. Bebemos uns copos, combinámos deixar o dinheiro na cave do Fanicos num alçapão secreto e fomos buscar o dinheiro à sala. Carregámos todos os sacos para o alçapão secreto e o Filipe arrancou com o Pedro. O Lim deixou-me à porta da casa da Mena e foi-se embora.
São três e meia da manhã. Pego no meu telemóvel e ligo para a Mena.
_Tou! Mena!
_ Tou! Anjo onde estás? Que horas são?
_São três e meia, Paixão. Estou à tua porta.
Vejo-a a espreitar pela porta da varanda e digo-lhe adeus. Ainda está vestida, fixe.
_Espera que eu já desço.
Não foi preciso esperar muito, em segundos sai pela porta da frente e começa a correr na minha direcção. Beijámo-nos e abraçámo-nos.
_Anda para o meu carro.
Entrámos no carocha e ficámos a olhar um para o outro. Eu comecei a enrolar um e pensei para mim que não sabia o que dizer. Era óbvio que gostava dela. Mas, contar a verdade? Não sei se sou capaz.
_Não digas nada que te possas vir a arrepender.
_O quê Mena?
_Pensa bem no que vais dizer. Conta-me apenas a verdade, anjo. Já está tudo bem?
_O que estás a dizer?
_Estou a perguntar se a coisa não se complicou depois de fugirem.
Caiu-me tudo, até me engasguei com o fumo. Como era possível ela saber?
_Depois de fugirmos?
_Sim. Depois de fugirem. Já passou muito tempo o que estiveram a fazer até agora?
_O que dizes?
_Podes contar-me a verdade, anjo. Eu vi tudo.
Cada vez acho mais incrível. O que se está a passar? Como pode ela saber da fuga? Ela diz que viu tudo. Tudo o quê? Ela não estava lá, aliás eu vi muito bem que ninguém nos seguiu. Tenho de lhe perguntar o que viu.
_Viste tudo o quê?
_O assalto. A fuga. E depois mais nada. Eram quatro. Parecia um armazém.
_Mas ... como?
_Lembras-te de eu te dizer que quando fumávamos em locais diferentes, que se eu soubesse que tu estavas a fumar era como se estivéssemos juntos?
_Sim e daí?
_Pela primeira vez aconteceu. Foi como se estivesse à tua beira, mas mais que isso, foi como se estivesse dentro de ti. Consegui ver tudo.
_Aquela voz que ouvi antes do carro pegar foi a tua.
_Não sei como, mas consegui falar contigo e depois abri os olhos e estava no meu quarto.
Não podia acreditar no que estava a ouvir. Parecia coisa do outro mundo. Será que ela estava moca outra vez e começou a inventar tudo? Não. Ela viu mesmo a cena toda. Que estranho. Agora é que estava a associar as peças. Espera aí. Se ela só viu até à fuga não sabe do Gazela. Nem pode saber.
_Que cena, Paixão.
_Podes crer. Estranho não é? Conta-me o que aconteceu depois, anjo.
_Nada de especial. Estivemos a fazer tempo no Fanicos e foi cada um para a sua casa.
_A sério? Não aconteceu mais nada?
_Não, podes estar descansada.
Estivemos a curtir um bocado dentro do carro e ela trouxe-me a casa. Despedimo-nos, ela foi-se embora e eu entrei. Fui para o meu quarto, despi-me, vesti o pijama, liguei o despertador e deitei-me na cama.
Fecho os olhos e começo a recordar a noite de hoje. Que noite mais doida, mais estranha e mais perigosa que eu alguma vez tinha passado. Espera aí esquecemo-nos de uma merda. Ainda há uma prova que nos pode incriminar. Isso mesmo. Grande merda. E se o Gazela perdeu a chave dentro do armazém? Se a judite a encontrar pode chegar até ao carro do Lim. Está certo que para todos os efeitos o carro estava parado no parque na altura do roubo. Mas como ninguém viu o carro em que fomos, podem na mesma incriminar o Lim. Ele não consegue explicar como é que a chave dele foi aparecer dentro do armazém. O melhor é ligar ao Lim.
Ligo para ele, mas o telemóvel está desligado.
O melhor é ligar-lhe amanhã de manhã, o mais cedo possível. Também tenho que descansar um pouco e já é muito tarde. É isso mesmo, mais vale dormir um bocado.
9:00h – Casa dos meus Pais
Pipipipi! Pipipipi! Com um gesto rápido desligo o despertador. E permaneço deitado sem abrir os olhos. Começo a lembrar-me daquela cena da chave que o Gazela perdeu. Iá, tenho que avisar o Lim.
Marco o número dele, mas o telemóvel continua desligado. Porreiro. Vou dormir mais uma horinha para ficar fresquinho. Torno a ligar o despertador e volto a adormecer.
Pipipipi! Pipipipi! Zau! Já está desligado. Abro os olhos e sento-me na cama. Olho à minha volta e regresso ao Mundo. Tenho de ligar ao Lim.
_Tou! Lim?
_Como é?
_Tá-se bem, man.
_A que horas em tua casa?
_O mais rápido possível. Pode haver merda.
_Merda? Onde?
_Falámos em minha casa, man. Dá-me uma hora.
_Até já.
Tomo um banho e vou para o meu apartamento. Tocam à campainha e entra o Lim.
_Então miúdo? O que se passa?
_A chave man! E se o Gazela perdeu a chave no armazém?
_A chave!
Dá uma palmada na testa e eu consigo ver a expressão dele a mudar. Começa a franzir a testa e a olhar para cima, para o lado esquerdo.
_Então Lim?
_Tens razão. Se a encontrarem perto ou dentro do armazém, vão chegar até mim facilmente. Temos que nos informar do que descobriram até agora.
_Espera aí que eu vou à caixa do correio buscar o jornal.
_Também vou ligar a televisão nas notícias.
Saio, vou à caixa do correio e vejo um jornal e uma carta sem remetente. Volto para a sala. O Lim meteu o CD da Dido e já enrolou um.
_Já deu nas notícias? Aqui no jornal não tem grande coisa, man.
_Toma segura. Parece que recolhemos três milhões e quinhentos mil euros.
_Três milhões e quinhentos mil? Iá.
_Mas não têm nenhuma pista, ainda.
_E agora, man? Voltamos lá?
_Na hora do almoço vamos ver se encontrámos alguma coisa no esterior. Depois logo se vê.
Iá. Ainda era tão cedo. Dá perfeitamente para ficar a curtir no sofá. O som está super-fixe, a moca a bater bué e sinto-me a relaxar um bocado.
Por volta da uma da tarde vamos no carro do Lim até ao parque industrial. Paramos exactamente onde tínhamos deixado o carro na noite anterior. Saímos e começamos a caminhar à procura da maldita chave.
_Ainda não vi nada, Lim.
_Não olhes para ninguém nos olhos. Olha só para o chão.
Continuamos a procurar, mas nada. Nada. Voltamos para o carro um bocado desiludidos. A única coisa que nos alegrava era o facto de saber que a judite ainda não tinha encontrado nada também.
O Lim deixa-me à porta da universidade e eu saio.
_Eu depois ligo-te, man.
_Adeus.
Lá estava a Mena de novo com a insuportável da Lena.
_Olha, olha. Cá está ele de novo.
_Olá anjo.
_Mena estás fixe?
_Então lindinho da mamã? Voltaste?
_Lena olá e adeus. Vamos amor?
_Vamos. Adeus Lena. Eu depois ligo-te.
_Adeus.
Agarramos na mão um do outro e começamos a caminhar para o Mc Donald´s.
Quando saímos demos um beijo e ela foi para o centro de explicações que era mesmo ao lado. Era lá que ela dava explicações de matemática a alunos do décimo segundo ano.
E eu? Vou para o Fanicos.
Entro e lá está o Rui na mesa do costume.
_Então Rui?
_Então pá?
_Que contas man?
_Pá nem te digo. Parece que houve um roubo ontem à noite e que o Lim esteve envolvido nisso.
_Quem te disse isso?
_Sabes pá, o meu tio Gusto trabalha no armazém que foi roubado ontem e ouviu dizer que ontem à noite o Lim foi interrogado pela pê jota.
_A sério? E que mais?
_Sabem quantas pessoas eram e que perderam alguma coisa.
_E como?
_Tinham instalado há pouco tempo uma câmara para o exterior e conseguiram ver na única filmagem que escapou ilesa que eles procuravam alguma coisa no chão.
_E os tipos? Conseguiram identificar algum?
_Não pá. Infelizmente estava demasiado escuro e com os gajos de preto e todos encapuchados, era impossível
_E agora? O que está a judite a fazer?
_Eles já sabem bué, pá.
_Conta-me tudo man.
O Rui contou-me que começaram por desconfiar que devia ser por intermédio de alguém de dentro que eles conseguiram entrar. Ou então por intermédio de alguém que tivesse trabalhado lá recentemente. Foi quando descobriram que só tinham rescindido contrato dois tipos no passado mais recente. Um deles era um velhote que está internado no hospital. Estava fora de hipótese. O outro era o pobre do Gazela. A judite já tinha ido há casa do Gazela e tinha encontrado lá os planos. E ainda para mais a Mãe dele disse-lhes que o Gazela tinha dito que nessa noite ia para o Fanicos e que chegava tarde.
Neste momento estão a passar o armazém a pente fino à procura de alguma pista que incrimine o Lim. E também estão à procura do Gazela, pois até agora ainda ninguém teve notícias dele.
_Que cena, man.
_Podes crer pá. Parece que o plano era algo de fabuloso, a pê jota disse que nunca tinha visto nada assim, pá.
_Espectacular man. Olha, o Lim está cá?
_Ainda não o vi, pá.
_Vou ver se ele está lá dentro. Até já.
_Até já.
Fui para a sala ao lado e o Lim não estava. Foi quando reparei que a porta do quarto estava fechada. Bati à porta e como não havia resposta, entrei. Merda. O Lim não estava aqui também. Tinha que lhe ligar.
_Tou! Lim!
_Tou!
_Onde estás, man? Tenho uma cena para te contar, man.
_Não posso. Agora não. Mal possa eu ligo-te.
_Olha que é ...
Desligou-me na cara. Era primeira vez que o Lim me desligava o telefona na cara. Devia se estar a passar alguma coisa. O quê? A judite? E agora? Só posso esperar que ele me ligue. Vou para o meu apartamento. Iá. Bebo um copo, enrolo um e relaxo até ao Lim me ligar.

quarta-feira, outubro 05, 2005

CAPÍTULO VII

Capítulo VII


De repente entra na sala um tipo muito parecido com o Lim. Era o Filipe, o primo dele. A única grande diferença era a cor do cabelo. O Filipe tinha um louro oxigenado.
_Como é? Que estão aqui a fazer?
_Tu és doido Fil? Não te disse para não vires para aqui?
_Não. Tu disseste-me para não ir para lado nenhum a não ser para aqui.
_Burro! Eu disse-te exactamente o contrário. Só não podias vir para aqui. Agora não há nada a fazer. Senta-te e cala-te. Mais uma merda para resolvermos.
_Alguém cortou-se está aqui um punhal cheio de sangue. Merda! O que é isto?
Deu um salto mal viu o Gazela estendido. Já com uma pequena poça de sangue junto da garganta.
_Tem calma Fil. A gente já te explica.
_E quem é este preto que eu não conheço?
_É o Pedro. Um amigo meu. Pedro, este é o Filipe, o meu primo. Aquele já o conheces.
_Tás fixe man? Já não te via à bué.
_Tá tudo. Alguém quer me dizer o que se passa aqui?
_Senta-te Fil. Isto é muito simples. Temos aqui um cadáver, a judite lá dentro no bar e o resultado da receita nocturna aqui dentro.
_Tás a brincar. A judite está lá dentro?
_Claro. Porque é que achas que te deixei trazer o meu carro e a minha roupa?
_Tu tás a brincar, de certeza. Já pensas-te que eu podia ter sido apanhado nalguma cena? Se vou vender cena ou isso?
_Desculpa Fil. Tens razão, não tinha pensado nisso. Podia ter feito das boas. E pensando bem, fiz. A judite está lá dentro e eu tenho de lá ir.
_É melhor man. Convinha que eles te vissem.
O Filipe e o Lim trocam de roupa e eu e o Lim entrámos para o café. O Lim vai para detrás do balcão e eu sento-me meio de lado nos bancos junto dele. Lá estão os dois agentes, sentados numa mesa com duas cervejas e um pratinho de tremoços. Um deles, o mais baixo, está a falar ao telemóvel, mas não consigo ouvir direito o que ele diz. O outro está a ler uma revista, mas também não consigo ver bem qual é.
_Do mal o menos, man. A judite juraria que tu estiveste sempre cá. Arranjaste o teu alibi.
_Não sei puto. Eles já não me vêem há muito tempo e como não te viram chegar podem perfeitamente pensar que eu saí pelas traseiras e depois que tu chegaste comigo.
_Pois é. Que cena, man. Achas que demos bandeira?
_Vamos ter de esperar.
Um dos agentes, o baixinho, levanta-se. Agora consigo ver que está vestido com um fato perfeitamente vulgar. Depois levanta-se o outro. Este é bem mais alto. Deve ter para aí a altura do Lim e está vestido com um fato igual ao do outro. Começam a caminhar na nossa direcção e sentam-se ao meu lado. O baixinho é o homem das falas o outro está calado com um sorriso cínico.
_Boa noite, meus senhores. Polícia judiciária.
_Boa noite. Há algum problema senhor agente? Algo com as bebidas?
_Não esteja descansado que fomos muito bem servidos. Apenas gostaríamos de lhe fazer uma ou duas perguntas.
_Estejam à vontade senhores agentes. O que se passa?
Era incrível a frieza que o Lim mantinha enquanto falava com a judite. O que será que lhe iriam perguntar? Será que me iam fazer perguntas também? Espero que não, pois estou a sentir-me super-nervoso e sinto os meus olhos vermelhos a chorar devido ao fumo.
_Gostávamos que nos respondesse ás perguntas na esquadra. Não se importa de nos acompanhar?
_Importar importo-me, mas posso lhes facilitar a coisa.
_Como assim?
_Vou convosco se me adiantarem alguma coisa antes, pois não faço a mínima ideia do que se está a passar.
_Só queremos saber onde é que esteve ao certo esta noite e isto também se aplica a si.
O agente está a apontar um dedo para mim. Merda! Passei a suspeito. Se soubesse tinha ficado lá dentro com o resto do pessoal.
_Querem que eu também vá à esquadra?
_Sim. Os dois. Não se importam, pois não? Não têm nada a esconder, não é assim?
O Lim olha para mim e pisca-me o olho.
_É claro que vamos os dois. Vai ser divertido.
_Fala por ti man. A minha namorada está à minha espera.
_Deixa-te de coisas puto. Vens comigo senão nunca mais nos livramos destes tipos.
_Estes tipos têm nome, Limpo. Eu sou o agente Britos e este é o agente Leão. Já nos conheces e podes tratar-nos pelo nosso nome.
_Desculpa Britos, foi sem querer. Estou a ver que o Leão continua sem rugido.
O agente Leão cerra os punhos, dá um murro em cima do balcão e ouve-se uma voz num tom feroz. Parecia mesmo o rugido de um leão.
_Deixem-se de merdas e vamos já embora. A bem ou a mal vão connosco.
_ Tem calma Leão. Deixa-nos só ir lá dentro buscar os nossos casacos.
Entramos para a sala ao lado e eu fechei a porta. Os outro estavam todos um pouco assustados e o Lim sugeriu que enquanto nós fossemos à esquadra eles deveriam se livrar do corpo do Gazela, da Nissan e colocar o dinheiro num lugar seguro. Sim, porque o café podia ser revistado de um momento para o outro.
_Primo! Onde é que nós vamos esconder o corpo e a Nissan?
_O corpo é fácil. Levam-no para o pinhal, enterrem-no bem fundo e depois pegam fogo ao pinhal.
_E a Nissan?
_Pedro. A Nissan podes levá-la para o sítio combinado da fuga dois.
_Iá man. Não estudaste o plano?
_Tens razão. A Nissan tem de ir para o parque subterrâneo.
Porquê o parque subterrâneo? O Lim sabe o que faz. Por volta das sete horas da tarde pediu ao Filipe para deixar a Opel Astra dele no parque subterrâneo, ou seja, tirou um bilhete na entrada e deixou lá a carrinha dele. Agora só têm que entrar com a Nissan, tirar outro bilhete e trocá-los. Depois saem no carro do Filipe e a Nissan está isenta de tudo, pois esteve sempre estacionada no parque. Genial, não?
Começam a bater à porta. Merda! É a judite.
_Estamos a sair! Anda Lim.
_Pessoal façam tudo bem feito. Boa sorte!
Saímos do café e fomos com a judite no carro deles para a esquadra. Era a primeira vez que lá ía. O que me vale é que já não tenha cena comigo e a moca também já me passou. Fixe, assim já não dou bandeira.
Entramos na esquadra e os bófias começam a olhar-nos de alto a baixo. Alguns até cumprimentavam o Lim. Levaram-nos para salas separadas para nos interrogarem. Para aquelas salas que só têm duas cadeiras, uma mesa, uma porta e um espelho daqueles que toda gente sabe que é janela do outro lado. Sentei-me virado para o lado que tinha o espelho e comecei a fazer caretas. Passados alguns minutos entra o agente Britos na sala.
_Estava a ver que não vinha ninguém man.
_Peço desculpa pela demora mas estive a resolver uns problemas.
_Então. Que quer saber?
_Vou ser muito sincero consigo. O Limpo já confessou tudo.
_Já sabem tudo o quê? Não sei do que está a falar.
_Do armazém 117. Do roubo e onde está o dinheiro.
Olha-me para este. Pensa que eu nasci ontem. O Lim confessar. Boa piada.
_Houve um roubo? E depois?
_O Limpo já confessou, pá. Conta-me lá como tudo se passou.
_Olhe senhor agente, não sei sobre roubo nenhum, não sei o que o Lim lhe disse, mas sei que eu e o Lim estivemos juntos toda a noite no café.
_Então diz-me como é que não te vimos chegar ao café? Estivemos lá desde que o Limpo chegou. És invisível? É?
_Tire o dedinho por favor. Como era possível vocês me verem chegar se eu cheguei ao café antes do Lim? Senhor agente, por favor tenha dó de mim.
_O que quer dizer que se chegamos ao café ás onze menos dez e só vimos o Limpo de novo à uma menos dez, vocês estiveram a fazer o quê durante duas horas?
_Senhor agente por favor. Basta olhar para os meus olhos. O que acha que estivemos a fazer? Estivemos a curtir é claro.
_Queres que eu acredite que estiveram duas horas a fumar charros e a curtir?
_Mas não estivemos a fazer mais nada. Foi só isso.
_Cala-te! Fica aí que eu já volto.
Sai todo apressado e bate com a porta. De certeza que o Lim iria contar a mesma história. Tanto ele como eu somos muito manhosos. E inteligentes também. Eu acho que de certa maneira nós nos completámos. Não tarda nada vamos sair os dois pela porta com ares triunfantes.
Abre-se a porta e entra de novo o baixinho. Senta-se e começa a sorrir. Eu também sorrio para ele e ele pára de sorrir. Olha-me fixamente nos olhos sem pestanejar. A sua expressão é cada vez mais séria.
Será que o tipo está à espera que eu diga alguma coisa? Ou então não bate bem da carola. Iá, que doido. O tipo está tolo.
Levanta-se de repente e começa-se a aproximar de mim. Debruçado sobre a mesa começa a chegar perto do meu nariz com o dele. Pára antes de me tocar com a ponta do nariz e continua a olhar-me fixamente nos olhos.
_Acabou! Vais para uma cela até me confessares a verdade. O Limpo já confessou e já está enjaulado de vez.
_Atenção que eu tenho direitos. Quero fazer um telefonema.
_Não há telefonema nenhum. A nossa central telefónica está avariada.
_Não há problema senhor agente, tenho aqui o meu telemóvel. Não me importo de o usar.
_Está bem. Mas só um.
E agora? A quem ligo? Ao meu Pai? À Mena? Ao Rui? Iá, se calhar é o melhor para ligar. Ele vem cá e paga a minha fiança. Isto se tiver fiança. Não. O melhor é telefonar ao meu Pai, pois pode ser necessário um advogado para me tirar daqui.
Ligo para o telemóvel do meu Pai. Que cena está desligado.
_Senhor agente o telemóvel do meu Pai estava desligado. Vou telefonar para o fixo da minha casa.
_Nem pensar. Entregue-me imediatamente o telemóvel. Só tinha direito a um telefonema. Azar! Podia ter acontecido a qualquer um.
Entrego o meu telemóvel ao agente e ele encaminha-me possivelmente para uma cela. Saímos da sala onde estávamos, passámos por um corredor e chegámos a um open space. Estão montes de secretárias e uns tantos agentes. Estão todos a olhar para mim, a pensarem que eu sou um criminoso, que por acaso até sou, que mereço ser condenado e enjaulado. Entramos agora num outro corredor com duas grades. Um polícia gordo abre-nos as grades para nós passarmos. Passámos mais uma porta e chegámos a ma caixa de escadas. Começámos a subir as escadas e entramos no corredor das celas. De repente o baixinho pára e abre uma cela.
_Podes entrar. Amanhã fazemos o teu registo.
_Ligue para minha casa por favor. Avise o meu Pai.
_Podes estar descansado. Há! Há! Há! Boa noite!
Fechou-me a cela e desapareceu. Ouço agora uma porta fechar. O barulho da chave a rodar na fechadura. Olho à minha volta e vejo uma cama já desfeita, uma sanita sem tampa e um lavatório todo ferrugento.Que nojo! Ao menos tem papel. Onde estará o Lim? Será que também está preso? Será que só eu é que fui preso? E agora?

CAPÍTULO VI

Capítulo VI

22:55h – Parque Industrial

_Pessoal! Atenção! Cumpram apenas o plano e sobretudo não façam disparates.
_Bora lá! Estamos em cima da hora.
O Lim entregou a cada um de nós um daqueles mini-rádios Motorola e duas armas. Um punhal para colocarmos na perna e um pistola automática para pormos à cinta. Colocámos todos um capuz preto e eles saem do carro. No meio do pouco nevoeiro, por cima da calçada meio baça, vejo-os a atravessarem a rua para junto do armazém.
Boa altura para enrolar outro e descontrair ao som de Thievery Corporation. Iá. Loucura total.
Esta é a parte que eu mais curto. A imaginação a funcionar. Imaginar o que se está a passar lá dentro. Mais do que imaginar, visualizar. Isso mesmo. Visualizar, acompanhar todos movimentos, todas as acções e toda a situação. E o melhor de tudo é saber que estou com a moca. A curtir toda a situação.
Mudo de CD. Placebo, “Special K”.
Claquetes!
Acção!
Estou a ver os três a entrarem no armazém. Completamente vestidos de negro. O Lim vai à frente. Diz aos outros para avançarem. Está um guarda sentado numa cadeira de madeira, com os pés apoiados em cima da secretária, também ela de madeira. Está a ler o jornal. O Lim avança para ele com a pistola em punho e diz-lhe para ele não se mexer e não falar. O guarda assusta-se e quase cai ao chão. O Gazela intromete-se e diz-lhe que é um assalto. O guarda rende-se e eles prendem-lhe os pés e as mãos atrás das costas com fita adesiva negra. Agora estão a amordaçá-lo e deixam-no no chão. O Gazela vai para a secretária do guarda e desliga o rádio dele, pois sabe que era normal este guarda esquecer-se de o ligar e assim os outros não achariam estranho.
O Pedro tranca a porta da frente com a cópia da chave que o Gazela tinha conseguido quando trabalhou lá. Avança para junto do Lim e caminham os dois para a porta que separa a portaria da área dos escritórios.
Iá. Um guarda apanhado! Tudo a correr OK! Não está a falhar nada.
Eis que o meu telemóvel começa a tocar. Olho para o visor e vejo que é a Mena.
_Merda só me faltava mais esta. Foi só pensar que estava tudo a correr bem que acontece logo merda.
Ligo o carro. Ela vai ouvir o barulho do carro e eu posso lhe dizer que estou em viagem com os meus Pais.
_Tou Mena?
_Olá anjo! Onde estás? Precisámos de conversar.
_Estou com os meus Pais. Vamos buscar o César. Eu já te tinha dito.
_Então fazemos assim: quando chegares, não interessa a que horas, liga-me e vamos ter os dois a algum lado.
_Hoje não posso. Tenho que estar com o meu primo.
_É mais importante do que nós, o teu primo?
_Não amor, mas o rapaz já não está comigo há 2 meses. E eu também tenho saudades dele.
_Pois então só te digo que se hoje ...
_Hoje?
_Sim! Hoje! Se não vieres ter comigo, acredita que nunca mais me pões a vista em cima. Aceito a bolsa de estudo para Londres.
_Mena! Não podes fazer isso. É injusto.
_Já te disse e não repito.
_Mas, Mena.
_Adeus anjo.
Desligou! Não acredito. Agora é que foram elas. O que vou fazer agora? Não posso largar os rapazes, mas também tenho que ir ter com ela. Ora bem! Se a recolha nocturna termina à meia-noite e meia e se ela disse que podia ser a qualquer hora, então não tenho que me preocupar mais com isto. Sim já está resolvido por si mesmo. Vamos mas é ver onde estarão os rapazes.
São onze e dez. Já estão no escritório e já anularam mais dois guardas. O Gazela já foi desligar os sensores e o alarme principal do cofre. Conseguem agora ver pelas pequenas televisões os outros dois guardas há porta do cofre. O Pedro avança com o Lim para a porta que os separam dos outros dois guardas. O Gazela olha para as televisões e diz-lhes as posições dos dois guardas. Eles entram e facilmente tomam conta da situação.
O Gazela fica nos escritórios pois ás onze e meia vão ligar da central de segurança e ele tem que dar os códigos. Só aí é que começam a arrombar o cofre pois se o Gazela der os códigos errados, temos que interromper a recolha.
Toca o telefone. O Gazela atende e dá os códigos. Silêncio. Não há resposta. O Lim e o Pedro começam a encaminhar-se para a entrada. Estão os três a suar. Continua a não haver resposta. Vamos ter de abortar. Volto a ligar o carro para não perdermos tempo. Olho para a porta da entrada porque eles devem estar a sair a qualquer momento.
Felizmente ninguém saiu. Yes! Quer dizer que não foi necessário o plano de fuga número um. Os rapazes não sofreram nada. Os códigos foram aceites e eles começam a arrombar a porta do cofre. O Pedro é o especialista naquelas cenas de rodar. Encosta o ouvido à porta e começa a rodar as cenas. Roda para um lado e para o outro. Já conseguiu um. Passado uns minutos já estão mais dois. Só falta um. Conseguiu. O Pedro já acabou a sua especialidade. Está na vez de entrar outro.
Entra em cena o Lim. Um dos seus hobbies é ser pirata informático. Consegue quebrar qualquer password. Esta é também uma das razões pela qual a judite o persegue. Conta-se que ele entrou pela internet no computador do Banco de Portugal e retirou para uma conta na Suiça uma pipa de massa.
O Lim abre uma tampinha da porta do cofre onde estavam os botões de código digital e retira os fios para fora. Une os fios que saem do cofre ao seu mini-computador e liga-se à internet.
Como ele o faz? Não sei. Acreditem. Mas, segundo dizem, corre uma data de sites de amigos piratas e passado meia hora já tem os códigos na mão. Desliga o seu mini-computador e torna a ligar os fios do cofre. Fecha a tampinha e digita o código conseguido. Roda o fecho e ... Click! Está aberta a porta. Agora é só encher os sacos do lixo com o dinheiro e pirarmo-nos daqui.
Vocês fazem ideia da quantidade de notas que são cinco milhões de euros? Eu acho que deve ser bué. Deixa ver ... cinco milhões de euros a dividir por quinhentos ... dá ... dez mil notas de quinhentos euros. É muita merda. Quantos sacos serão necessários? Uns vinte? Sei lá. Nem me interessa. Eu quero é o meu dinheiro.
Lá estão eles a encher os sacos com a massa. É só dinheiro a voar. Lindo... notas ... de dquinhentas brasas. Saco pós saco enchem eles com as notas. Que espectáculo! O Lim a segurar num e o Pedro e o Gazela a carregarem maços de notas para dentro dele.
Começa a tocar o telefone. O Gazela caminha para lá e responde o código. Faz-se silêncio.
Neste preciso momento estou a ouvir Morcheeba, “World looking in”. Acho que estou a viver o momento que eles estão a viver.
Um silêncio de ensurdecer ... de arrepiar ... de fazer gelar o mais quente dos homens. Começam a tremer. Depois a suar. E finalmente a se aterrorizar. O código estava mal! Merda! Temos que fugir!
Primeiro, pegar no máximo de sacos. Depois sair a toda a velocidade, o mais rápido possível. Vejo-os a correr com ares aterradores, de arrepiar. Correm o mais rápido que podem. Carregando vários sacos cada um. O Lim vem à frente, depois o Pedro e por ultimo o Gazela. Estão a chegar à porta e vão sair.
Abro os olhos e vejo a porta do armazém a abrir. O Lim está a gritar qualquer coisa. Merda fomos apanhados!
_Prepara para arrancar!!
_Já está Lim!!
_Abre a merda da mala!!
_O Gazela é que tem a chave da mala!!
_Eu não tenho chave nenhuma!! O Pedro é que a debe ter!!
_Não, no plano diz que se o Gazela perder a chave podemos utilizar as que estão na ignição.
Começa-se a ouvir o som de sirenes a aproximar. Merda o que me está a acontecer? Pega na chave man. Mas para isso tenho que desligar o carro. E depois? Desliga man estás parvo ou quê? Desligo o carro e atiro o porta-chaves para o Gazela. As chaves batem-lhe na cara e caem para debaixo da Nissan. O Gazela cai ao chão agarrado aos olhos.
_Merda. Acertou-me nos olhos. Não consigo ber nada.
O Lim abaixa-se e apanha o porta-chaves. Atira-o para o Pedro para ele abrir a mala.
_Abre a mala Pedro!! Rápido!!
_Já está!!
Começam a carregar a mala com os sacos e o Gazela continua no chão agarrado aos olhos e a gemer.
_Merda! Só a mim. Não consigo abrir os olhos.
_Tem calma man!! Eles já te ajudam a entrar!!
Acabam de carregar o carro, fecham a mala e vão ajudar o Gazela. Entram e eu ponho a chave na ignição. Rodo a chave e o carro não pega. Rodo outra vez e nada.
_Liga o carro rápido!! Já se oubem as sirenes bem perto!!
_Não quer pegar!! Pega!! Merda!! Pega!!
Vou rodando as chaves e o carro não pega. As sirenes já sufocam e consigo ver luzes lá ao fundo. Torno a rodar as chaves e o barulho de motor a morrer começa a ficar cada vez mais repetitivo. Até que ouço uma voz lá de trás.
_És o melhor arranca!!
Não sei se foi o Pedro ou o Gazela, aliás a voz nem parecia de nenhum deles, mas o certo é que resultou. Rodo as chaves e o carro pega.
_Bamos fugir!! Bora Lá!!
O Lim pega no CD de fugas e começamos a curtir um som de Queen´s, “Under Pressure”. Era mesmo isso, sobre pressão. O Lim gostava de nos ver assim. Ele dizia sempre que os melhores momentos que viveu foram sobre pressões em fugas. Momentos de pura adrenalina. De arrebentar qualquer coisa.
Vamos a cinquenta. Não posso chamar a atenção de ninguém para nós. Assim ninguém se vai lembrar de nos terem visto. É perfeito. E eu sou muito bom, mesmo sobre pressão. Olho pelo retrovisor e vejo as luzes dos carros da polícia a chegarem ao armazém. Ninguém vem atrás.
_Fixe. Não bem ninguém atrás de nós.
_Era mesmo isso que eu ía falar man. Tiraste-me as palavras da boca.
_Eu tirava-te era os dentes palhaço!
_Tem calma Pedro. Quem manda aqui ainda sou eu. Todos nós vimos o que aconteceu. Ele não teve culpa nenhuma. O carro não pegava.
_Mais tarde tiramos isso a limpo Lim.
_Para onde vamos agora, Lim? É para o Fanicos não é man?
_Estou a ver que estudaste o plano de fuga dois.
_Eu disse-te que era canja man.
Fomos para o Fanicos e parei a Nissan nas traseiras. Saímos todos e começámos a levar os sacos para dentro.
_Pedro agarra é o último. Bamos entrar e curtir!!
Entrámos e sentámo-nos à volta de uma mesa. O Lim colocou um copo a cada um e abriu uma garrafa de Vodka.
Boa! Vamos curtir bué. Espera aí ... ainda tenho um problema chamado Mena. Não posso ficar aqui muito tempo. Tenho de arranjar uma maneira de vazar daqui.
_Bebam à vontade pessoal. Hoje é por conta da casa.
_Boa Lim! Pedro manda a bodka para aqui.
_Toma lá Gazela. A tua pronuncia não engana ninguém, és mesmo de Braga.
_Tens problemas com isso meu?
_Com isso não pá. Mas com o facto de teres disfarçado para não carregares com os sacos. Aí é que o caso muda de figura.
_O que estás a insinuar meu?
_Pessoal tenham calma. Não quero confusões dentro do meu café.
_O Pedro tem razão Gazela. Já não te doem os olhos man?
_Então Gazela? Não dizes nada?
É verdade. Nem me tinha apercebido disso. Quando é que ele começou a ver? Deixa cá ver ... Já sei. Foi a partir do momento em que saiu do carro quando chegamos aqui ao café. Malandro.
_Por minha parte só te desculpo se enrolares um man.
_Puto pára com isso! Gazela, neste momento ... neste preciso momento ... só me apetece ... dar cabo de ti. Anormal!
Ao mesmo tempo que o Lim diz isto, dá um pontapé na mesa. Os copos entornam-se, a garrafa cai em cima da mesa e rola para o chão. Trás. Parte-se no chão. A mesa bate no pobre do Gazela que se desequilibra e cai de costas no chão. O Lim salta para cima da mesa e depois para cima do Gazela. Até que cai sentado em cima dele.
_Lim! Pára! Estás a magoar-me!
_Eu vou é dar cabo de ti.
Vejo o Lim a sacar o punhal da perna e a encostar à garganta do Gazela. O Pedro arranca para eles e agarra o braço do Lim.
_Estás doido Lim? Solta o rapaz!
_Eu vou ensiná-lo a nunca mais fazer merda.
_Larga-me meu.
_Ajuda-me. Não consigo segurar o braço dele.
Eu não me mexo. Não percebo porquê. Algo me impede. Será o facto de achar que o Pedro tem cabedal suficiente para o Lim? Será que quero que o Lim dê cabo do Gazela para ficarmos com mais? De certeza que não trouxeram os cinco milhões e a dividir por quatro cai mais a cada um.
Zás! A garganta do Gazela parece uma fonte de sangue. Ainda o ouço a emitir um som tipo um gargarejo. Até que ... Pimba! Cai no chão. Não se mexe mais. Está morto. Silêncio. Nenhum de nós emite qualquer som. O Gazela já não está entre nós. O Lim acabou com ele. E continua um silêncio de morte. Até que o Pedro toma a iniciativa.
_Vamo-nos sentar todos para acalmarmos os ânimos.
Sentamo-nos e comecei a enrolar um. O Pedro bebia os restos de todos os copos que estavam na mesa. O Lim sentou-se e pousou a faca ensanguentada em cima da mesa. Pôs as mãos na cabeça e pousou os cotovelos em cima da mesa.
_Não sei o que me deu.
_Mataste o gajo man.
_Não sei o que dizer. Foi mais forte que eu. Comecei a pensar que o gajo esteve o tempo todo a gozar connosco e que podíamos ter sido apanhados por causa dele. Não sei. Não entendo. Não me consegui conter.
_O que está feito, está feito. Vamos é livramo-nos do corpo. Eu também não gostava muito dele.
_Não digas isso Pedro. O Gazela era fixe man. Lim, o que vamos fazer agora?
_Tenho que me acalmar. Deixa cá ver.
Levantou-se, pegou numa garrafa de whisky e começou a beber. Eu já estava meio tonto.
_Queres Pedro? Já está a queimar.
_Obrigado. É fixe a tua cena?
_Com garantia do Lim, man. Do melhor que há.
_Pessoal! Deixem-se de merdas. Vamos resolver isto primeiro. É verdade, onde estará o meu primo? Ainda não me ligou.
O Lim liga para o Filipe e começámos a ouvir um telemóvel a tocar no quarto ao lado.
_Lim! O teu primo está cá? Aqui no café?
_O gajo deve estar doido, man. Quer dizer que a judite também está cá. Que cena man.
_Deve ter sido uma coincidência. O meu primo não vinha para aqui. Eu disse-lhe para ir para onde quisesse menos para aqui.