quarta-feira, outubro 05, 2005

CAPÍTULO VII

Capítulo VII


De repente entra na sala um tipo muito parecido com o Lim. Era o Filipe, o primo dele. A única grande diferença era a cor do cabelo. O Filipe tinha um louro oxigenado.
_Como é? Que estão aqui a fazer?
_Tu és doido Fil? Não te disse para não vires para aqui?
_Não. Tu disseste-me para não ir para lado nenhum a não ser para aqui.
_Burro! Eu disse-te exactamente o contrário. Só não podias vir para aqui. Agora não há nada a fazer. Senta-te e cala-te. Mais uma merda para resolvermos.
_Alguém cortou-se está aqui um punhal cheio de sangue. Merda! O que é isto?
Deu um salto mal viu o Gazela estendido. Já com uma pequena poça de sangue junto da garganta.
_Tem calma Fil. A gente já te explica.
_E quem é este preto que eu não conheço?
_É o Pedro. Um amigo meu. Pedro, este é o Filipe, o meu primo. Aquele já o conheces.
_Tás fixe man? Já não te via à bué.
_Tá tudo. Alguém quer me dizer o que se passa aqui?
_Senta-te Fil. Isto é muito simples. Temos aqui um cadáver, a judite lá dentro no bar e o resultado da receita nocturna aqui dentro.
_Tás a brincar. A judite está lá dentro?
_Claro. Porque é que achas que te deixei trazer o meu carro e a minha roupa?
_Tu tás a brincar, de certeza. Já pensas-te que eu podia ter sido apanhado nalguma cena? Se vou vender cena ou isso?
_Desculpa Fil. Tens razão, não tinha pensado nisso. Podia ter feito das boas. E pensando bem, fiz. A judite está lá dentro e eu tenho de lá ir.
_É melhor man. Convinha que eles te vissem.
O Filipe e o Lim trocam de roupa e eu e o Lim entrámos para o café. O Lim vai para detrás do balcão e eu sento-me meio de lado nos bancos junto dele. Lá estão os dois agentes, sentados numa mesa com duas cervejas e um pratinho de tremoços. Um deles, o mais baixo, está a falar ao telemóvel, mas não consigo ouvir direito o que ele diz. O outro está a ler uma revista, mas também não consigo ver bem qual é.
_Do mal o menos, man. A judite juraria que tu estiveste sempre cá. Arranjaste o teu alibi.
_Não sei puto. Eles já não me vêem há muito tempo e como não te viram chegar podem perfeitamente pensar que eu saí pelas traseiras e depois que tu chegaste comigo.
_Pois é. Que cena, man. Achas que demos bandeira?
_Vamos ter de esperar.
Um dos agentes, o baixinho, levanta-se. Agora consigo ver que está vestido com um fato perfeitamente vulgar. Depois levanta-se o outro. Este é bem mais alto. Deve ter para aí a altura do Lim e está vestido com um fato igual ao do outro. Começam a caminhar na nossa direcção e sentam-se ao meu lado. O baixinho é o homem das falas o outro está calado com um sorriso cínico.
_Boa noite, meus senhores. Polícia judiciária.
_Boa noite. Há algum problema senhor agente? Algo com as bebidas?
_Não esteja descansado que fomos muito bem servidos. Apenas gostaríamos de lhe fazer uma ou duas perguntas.
_Estejam à vontade senhores agentes. O que se passa?
Era incrível a frieza que o Lim mantinha enquanto falava com a judite. O que será que lhe iriam perguntar? Será que me iam fazer perguntas também? Espero que não, pois estou a sentir-me super-nervoso e sinto os meus olhos vermelhos a chorar devido ao fumo.
_Gostávamos que nos respondesse ás perguntas na esquadra. Não se importa de nos acompanhar?
_Importar importo-me, mas posso lhes facilitar a coisa.
_Como assim?
_Vou convosco se me adiantarem alguma coisa antes, pois não faço a mínima ideia do que se está a passar.
_Só queremos saber onde é que esteve ao certo esta noite e isto também se aplica a si.
O agente está a apontar um dedo para mim. Merda! Passei a suspeito. Se soubesse tinha ficado lá dentro com o resto do pessoal.
_Querem que eu também vá à esquadra?
_Sim. Os dois. Não se importam, pois não? Não têm nada a esconder, não é assim?
O Lim olha para mim e pisca-me o olho.
_É claro que vamos os dois. Vai ser divertido.
_Fala por ti man. A minha namorada está à minha espera.
_Deixa-te de coisas puto. Vens comigo senão nunca mais nos livramos destes tipos.
_Estes tipos têm nome, Limpo. Eu sou o agente Britos e este é o agente Leão. Já nos conheces e podes tratar-nos pelo nosso nome.
_Desculpa Britos, foi sem querer. Estou a ver que o Leão continua sem rugido.
O agente Leão cerra os punhos, dá um murro em cima do balcão e ouve-se uma voz num tom feroz. Parecia mesmo o rugido de um leão.
_Deixem-se de merdas e vamos já embora. A bem ou a mal vão connosco.
_ Tem calma Leão. Deixa-nos só ir lá dentro buscar os nossos casacos.
Entramos para a sala ao lado e eu fechei a porta. Os outro estavam todos um pouco assustados e o Lim sugeriu que enquanto nós fossemos à esquadra eles deveriam se livrar do corpo do Gazela, da Nissan e colocar o dinheiro num lugar seguro. Sim, porque o café podia ser revistado de um momento para o outro.
_Primo! Onde é que nós vamos esconder o corpo e a Nissan?
_O corpo é fácil. Levam-no para o pinhal, enterrem-no bem fundo e depois pegam fogo ao pinhal.
_E a Nissan?
_Pedro. A Nissan podes levá-la para o sítio combinado da fuga dois.
_Iá man. Não estudaste o plano?
_Tens razão. A Nissan tem de ir para o parque subterrâneo.
Porquê o parque subterrâneo? O Lim sabe o que faz. Por volta das sete horas da tarde pediu ao Filipe para deixar a Opel Astra dele no parque subterrâneo, ou seja, tirou um bilhete na entrada e deixou lá a carrinha dele. Agora só têm que entrar com a Nissan, tirar outro bilhete e trocá-los. Depois saem no carro do Filipe e a Nissan está isenta de tudo, pois esteve sempre estacionada no parque. Genial, não?
Começam a bater à porta. Merda! É a judite.
_Estamos a sair! Anda Lim.
_Pessoal façam tudo bem feito. Boa sorte!
Saímos do café e fomos com a judite no carro deles para a esquadra. Era a primeira vez que lá ía. O que me vale é que já não tenha cena comigo e a moca também já me passou. Fixe, assim já não dou bandeira.
Entramos na esquadra e os bófias começam a olhar-nos de alto a baixo. Alguns até cumprimentavam o Lim. Levaram-nos para salas separadas para nos interrogarem. Para aquelas salas que só têm duas cadeiras, uma mesa, uma porta e um espelho daqueles que toda gente sabe que é janela do outro lado. Sentei-me virado para o lado que tinha o espelho e comecei a fazer caretas. Passados alguns minutos entra o agente Britos na sala.
_Estava a ver que não vinha ninguém man.
_Peço desculpa pela demora mas estive a resolver uns problemas.
_Então. Que quer saber?
_Vou ser muito sincero consigo. O Limpo já confessou tudo.
_Já sabem tudo o quê? Não sei do que está a falar.
_Do armazém 117. Do roubo e onde está o dinheiro.
Olha-me para este. Pensa que eu nasci ontem. O Lim confessar. Boa piada.
_Houve um roubo? E depois?
_O Limpo já confessou, pá. Conta-me lá como tudo se passou.
_Olhe senhor agente, não sei sobre roubo nenhum, não sei o que o Lim lhe disse, mas sei que eu e o Lim estivemos juntos toda a noite no café.
_Então diz-me como é que não te vimos chegar ao café? Estivemos lá desde que o Limpo chegou. És invisível? É?
_Tire o dedinho por favor. Como era possível vocês me verem chegar se eu cheguei ao café antes do Lim? Senhor agente, por favor tenha dó de mim.
_O que quer dizer que se chegamos ao café ás onze menos dez e só vimos o Limpo de novo à uma menos dez, vocês estiveram a fazer o quê durante duas horas?
_Senhor agente por favor. Basta olhar para os meus olhos. O que acha que estivemos a fazer? Estivemos a curtir é claro.
_Queres que eu acredite que estiveram duas horas a fumar charros e a curtir?
_Mas não estivemos a fazer mais nada. Foi só isso.
_Cala-te! Fica aí que eu já volto.
Sai todo apressado e bate com a porta. De certeza que o Lim iria contar a mesma história. Tanto ele como eu somos muito manhosos. E inteligentes também. Eu acho que de certa maneira nós nos completámos. Não tarda nada vamos sair os dois pela porta com ares triunfantes.
Abre-se a porta e entra de novo o baixinho. Senta-se e começa a sorrir. Eu também sorrio para ele e ele pára de sorrir. Olha-me fixamente nos olhos sem pestanejar. A sua expressão é cada vez mais séria.
Será que o tipo está à espera que eu diga alguma coisa? Ou então não bate bem da carola. Iá, que doido. O tipo está tolo.
Levanta-se de repente e começa-se a aproximar de mim. Debruçado sobre a mesa começa a chegar perto do meu nariz com o dele. Pára antes de me tocar com a ponta do nariz e continua a olhar-me fixamente nos olhos.
_Acabou! Vais para uma cela até me confessares a verdade. O Limpo já confessou e já está enjaulado de vez.
_Atenção que eu tenho direitos. Quero fazer um telefonema.
_Não há telefonema nenhum. A nossa central telefónica está avariada.
_Não há problema senhor agente, tenho aqui o meu telemóvel. Não me importo de o usar.
_Está bem. Mas só um.
E agora? A quem ligo? Ao meu Pai? À Mena? Ao Rui? Iá, se calhar é o melhor para ligar. Ele vem cá e paga a minha fiança. Isto se tiver fiança. Não. O melhor é telefonar ao meu Pai, pois pode ser necessário um advogado para me tirar daqui.
Ligo para o telemóvel do meu Pai. Que cena está desligado.
_Senhor agente o telemóvel do meu Pai estava desligado. Vou telefonar para o fixo da minha casa.
_Nem pensar. Entregue-me imediatamente o telemóvel. Só tinha direito a um telefonema. Azar! Podia ter acontecido a qualquer um.
Entrego o meu telemóvel ao agente e ele encaminha-me possivelmente para uma cela. Saímos da sala onde estávamos, passámos por um corredor e chegámos a um open space. Estão montes de secretárias e uns tantos agentes. Estão todos a olhar para mim, a pensarem que eu sou um criminoso, que por acaso até sou, que mereço ser condenado e enjaulado. Entramos agora num outro corredor com duas grades. Um polícia gordo abre-nos as grades para nós passarmos. Passámos mais uma porta e chegámos a ma caixa de escadas. Começámos a subir as escadas e entramos no corredor das celas. De repente o baixinho pára e abre uma cela.
_Podes entrar. Amanhã fazemos o teu registo.
_Ligue para minha casa por favor. Avise o meu Pai.
_Podes estar descansado. Há! Há! Há! Boa noite!
Fechou-me a cela e desapareceu. Ouço agora uma porta fechar. O barulho da chave a rodar na fechadura. Olho à minha volta e vejo uma cama já desfeita, uma sanita sem tampa e um lavatório todo ferrugento.Que nojo! Ao menos tem papel. Onde estará o Lim? Será que também está preso? Será que só eu é que fui preso? E agora?

2 Comments:

At sexta-feira, outubro 07, 2005 1:17:00 da tarde, Blogger Ana said...

Mais! Tou a gostar d ler a história... e tou cada vez mais curiosa!

 
At quarta-feira, outubro 12, 2005 1:08:00 da tarde, Blogger Manuela Cardoso said...

Será que o crime compensa?
Acho que não,já mataram um e estão à beira de não gozarem dos milhões que roubaram.
Continuo curiosa como isto vai acabar.
Avisa quando houver mais capitulos.
Bjos

http://kaldinhas1.blogs.sapo.pt/

 

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