quarta-feira, outubro 12, 2005

CAPÍTULO IX

Capítulo IX

Estou deitado no meu sofá. A curtir um som de Kruder & Drofmaster. A pensar no que tinha que contar ao Lim. Espera aí o que é aquilo? Olho agora para qualquer coisa que está no chão, junto à porta da entrada. Parece ser um envelope. Levanto-me e apanho o envelope do chão. É uma carta sem remetente. Espera aí. Hoje quando fui buscar o jornal também trouxe uma carta sem remetente. Será que se está a passar alguma coisa?
Sento-me no sofá e abro um dos envelopes. Desdobro uma folha de papel e vejo uma série de letras de algum jornal recortadas e coladas.
_Não vale a pena procurarem-na. Leiam a primeira carta.
Pego no envelope que encontrei na caixa do correio e abro-o. De novo letras de jornal recortadas e coladas.
_Temos a chave em nosso poder. Se não fizerem o que queremos enviamos a chave para a judiciária.
Agora é que vão ser elas. Estamos tramados. Estão a fazer chantagem connosco e ainda para mais de certeza que vão querer o dinheiro todo. Tanto trabalho para nada. Merda. Tenho que falar urgentemente com o Lim. Mas ele disse-me para esperar pelo telefonema dele.
Pego nas cartas e olho de novo para elas. Reparo que o primeiro envelope também não tina selo e que as letras são todas do mesmo tipo. O jornal escolhido é o mesmo. Qual seria? Pego no que estava em cima da mesa e reparo que as letras coincidem. Os gajos lêem o mesmo jornal que eu. Estranho. Sinto algo a tremer na minha perna. É o meu telemóvel. É o Lim. Yes.
_Tou! Lim!
_Então? Onde estás?
_Vem ter comigo ao meu apartamento. Rápido.
_Até já.
_Aconteceram umas merdas, man.
_O quê?
_Já falamos, man. Não é assunto para falarmos ao telefone.
_Está bem. Até já.
_Despacha-te.
Pouco tempo depois estou com o Lim na minha sala.
_Lim não faças só um. Faz dois porque vamos precisar. É muita merda, man.
Contei-lhe toda a história que o Rui me tinha contado e das cartas que tinha recebido. O Lim ficou com um ar preocupado e começou a franzir a testa.
_Que vamos fazer, Lim?
_Estou a pensar. Mas até eles nos contactarem de novo não podemos fazer nada.
_Bem podemos esperar sentados.
_Podes sempre receber outro envelope por baixo da porta.
_É. Mas não acredito. Quem viria colocar um envelope aqui sabendo que cá estamos os dois?
_Um maluco qualquer, sei lá.
Foi quando ouvimos um barulho e olhamos os dois para a porta da entrada. Um envelope deslizava ainda pelo chão. Levantamo-nos os dois e corremos para a porta. Abro a porta e quando saio a correr esbarro contra alguém no meio da escuridão.
_Ai!! Não vez por onde andas, pá?
_Rui? És tu?
_Sou pá. Quem esperavas?
_Como é que sabes que eu moro aqui? O que vieste aqui fazer?
_Deixa-me entrar, pá. Já falamos.
Entramos os três para a sala e o Lim senta-se em frente ao Rui.
_O que se passa, pá?
_Como é que vieste cá parar, man?
_Olha. Rui, nós só queremos saber o que vieste cá fazer?
_Tenham calma. Olha pá, sabes que horas são?
_Horas? Estás passado, man?
_Sim, pá. Horas. São oito horas.
_E depois? Lim, este gajo está passado de todo.
_Rui. Foste apanhado. Confessa o que vieste cá fazer.
_Eu só vim cá porque a Mena me pediu, pá.
_A Mena?
_Sim, pá! A tua namorada estava preocupada contigo. Eu encontrei-a na rua e ela disse-me que tu te esqueceste de a ir buscar e eu disse-lhe que ía à tua casa falar contigo, foi quando ela me disse que era mais fácil encontrar-te aqui.
_A Mena disse-te para vires aqui?
_A sério, pá. Porquê? Passa-se alguma coisa contigo?
_Rui foi só por isso que vieste ter aqui? Porque a namorada dele te disse que ele tinha aqui um apartamento?
_Já disse que sim, pá. O que se passa, pá?
_Nada, man. Foi só uma cena sem importância. Não ligues.
_Se precisares de alguma coisa sabes que podes contar comigo, pá.
_Está descansado, man. Não se passa nada.
_Rui se não te importas, nós estávamos a ter uma conversa particular.
_Tudo bem, pá. Já estou de saída.
_Eu ligo-te mais tarde, man. Pode ser?
_Pode ser. Até já. Tchau Lim.
_Adeus Rui.
O Rui sai e nós sentámo-nos de novo no sofá. De repente o Lim dá um salto e vai até à porta. Apanha o envelope do chão e abre-o.
_À meia-noite encontramo-nos debaixo da ponte, junto ao rio. Levem todos os sacos do dinheiro.
_Merda. Terá sido o Rui que trouxe isto, man?
_Como assim?
_Imagina que o tio dele encontrou a chave. Pega na chave e guarda-a no bolso. Vai ter com o Pai do Rui e juntos preparam um plano para nos tirarem a massa toda.
_Não me parece. Como é que eles a partir de uma chave chegavam ao meu carro? Ainda para mais o puto parecia dizer a verdade, aliás basta telefonares à Mena para confirmares a história dela.
_Iá. Vou-lhe ligar. Tou! Mena!
_Ainda te lembras de mim, anjo?
_Claro que me lembro, amor. Mas estou com um problema e tenho que o resolver.
_Eu ajudo-te. Vem ter comigo.
_Não dá. Tenho que o resolver com o Lim.
_Foi por causa do roubo?
_Foi amor, mas não te preocupes que já está quase resolvido.
_Tem cuidado. Não precisas mesmo da minha ajuda?
_Não. Mas diz-me uma coisa, estiveste com o Rui, hoje?
_Encontrei-o e estava tão furiosa que lhe contei que tinhas alugado um apartamento.
_Deixa lá amor, não estou chateado.
_Ainda bem. Estava com medo que te chateasses comigo.
_Está descasada. Adoro-te, mas tenho que desligar.
_Também te adoro, anjo. Liga-me mais tarde.
_Está bem. Beijo.
_Outro para ti.
Desliguei e o Lim estava todo curioso a olhar para mim.
_O Rui está limpo. A história confirma-se.
_Então continuamos sem saber quem são. Temos de lá ir à meia-noite.
_Não devíamos avisar o Pedro? Afinal ele também está no mesmo buraco.
_Tens razão. Vou-lhe ligar.
_Eu acho melhor. Três cabeças pensam melhor do que uma e o Pedro pareceu-me ser um tipo inteligente.
_Já está a chamar. Tou! Pedro?
_ (...)
_Temos que nos encontrar o mais rápido possível.
_ (...)
_ Hoje não dá? Tem que dar, é importantíssimo.
_ (...)
_Amanhã é tarde mais. Tens que estar no Fanicos hoje à noite às dez horas.
_ (...)
_Muda isso para outro dia. Estou à tua espera às dez.
_ (...)
_Não há mas nem meio mas, aparece sem falta à hora combinada.
_ (...)
_Acabou! Não quero ouvir mais nada. Até logo.
O Lim desligou o telemóvel e franziu a testa.
_O gajo não quer vir Lim?
_Diz que tem um trabalho marcado para hoje à noite e que não pode vir.
_O gajo não deve estar a ver bem no que estamos metidos, man. Podias lhe ter dito que estamos prestes a perder toda a massa.
_Não te preocupes que ele aparece. Vamos indo para o Fanicos.
São vinte e duas horas e estamos no Fanicos. Já bebemos quase meia garrafa de whisky e o Pedro ainda não chegou. O Lim está farto de lhe ligar, mas o telemóvel dele está desligado. Será que o tipo não vem? Vou ter que resolver tudo com o Lim? Iremos perder todo o dinheiro da recolha nocturna? Uma série de questões não me saíem da cabeça e o pior de tudo é que acho que algo está errado. Não sei bem o quê, mas algo nesta história não bate certo. O que será?
_Como é miúdo? Estás tão moca que nem me ouves?
_Desculpa lá, Lim. Mas acho que nesta história toda algo não bate certo.
_O que é que não bate certo?
_Não sei, man. Alguma coisa está errada e eu vou descobrir o que é.
_Vê lá se descobres rápido, pois já temos pouco tempo.
_Pensa comigo, man. Para ti quem são os suspeitos?
_Suspeitos?
_Sim. Não desconfias de ninguém?
_Sinceramente? Não. A única pessoa de quem desconfiei foi do Rui, mas como a Mena confirmou a história dele, já não é mais suspeito.
_É, o Rui deixou a lista, mas ainda tenho mais três suspeitos.
_Quem?
_Eu, tu e o Pedro.
_Estás a brincar?
_Não. Eu e tu estamos fora porque estávamos os dois em minha casa quando recebemos a segunda carta, mas o Pedro...
_Já estou a ver a cena. Mas achas que é o Pedro que nos está a tentar passar a perna?
_Tudo encaixa, man. O Pedro sabia da chave e podia a ter tirado ao Gazela no carro à ida para o armazém, afinal iam os dois juntos no banco de trás. Enviou-me as cartas pois sabia que eu ia ter contigo. E até agora não deu mais notícias.
_A tua história é muito bonita, mas estás a esquecer-te que o Pedro não sabia do teu apartamento. Acho que estás na pista errada.
_É verdade, mas ele podia ter-te seguido a ti ou até a mim.
_A mim não me seguiu porque estou sempre atento a essas merdas. E a ti também não porque ele também não sabe onde é a casa dos teus Pais. Esquece miúdo, isto é obra de alguém de fora e de alguém com muitos conhecimentos.
_Talvez, mas eu disse-te logo que não gostava dele, man.
_Estás nervoso demais para pensar nisto.
_Também tens razão. Estou com a minha cabeça muito quente e quero encontrar um culpado a todo o custo.
_Estamos a perder tempo com disparates e ainda temos outro problema.
_Qual?
_Temos que meter os sacos da recolha nocturna na mala do meu carro sem a judite ver e ainda temos que os despistar de alguma maneira.
_Isso é fácil. Não te preocupes e deixa isso comigo.
_O que vais fazer?
_É simples. Saio pela porta da frente, pego no teu carro, dou a volta ao quarteirão e meto o carro pelas traseiras.
_E a judite?
_De certeza que não entram com o carro deles na tua propriedade, por isso podemos carregar os sacos para o carro na boa.
_E depois?
_Depois deixas-me conduzir a mim que eu já sei como os despistar.
_Se tu o dizes, quem sou eu para o desmentir. Vamos a isso.

1 Comments:

At quinta-feira, outubro 13, 2005 12:12:00 da tarde, Blogger Ana said...

Mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais!!! :D

 

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